quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Aventura do Catéter

Dia 22 de Julho, quinta-feira, lá fui ao Hospital para colocar o catéter. Estava marcada para entrar às 14h e seria a 3º pessoa da tarde, neste caso seria a ultima do dia.

Levaram-me para uma sala com camas e muita luz natural. Todos os que lá se encontravam eram muito simpáticos. Despi-me e meteram-me numa cama para depois me ligarem ao soro (eu nunca tinha levado com soro - pelo menos que eu me lembre!)
Claro que para colocar o soro foi logo uma aventura devido às minhas veias! (qual veias?) Mas levei aquilo no desportivismo. Nao me importo de ser picada, desde que nao esteja a olhar quando o estão a fazer.

O enfermeiro disse, depois de ver o meu bracinho, que só fazia duas tentativas, depois disso passava para a chefe dele que era super perita! E realmente ele tinha razão! Bateu-me no braço e na mão (sempre o lado esquerdo) para tentar sobressair alguma veia, mas a coisa estava dificil. De tanto bater e apertar eu bem lhe dizia que se aquilo ficasse roxo no dia seguinte bem que podia ir acusar o meu marido de violencia doméstica! heheh Bem, ao fim de duas tentativas desistiu, e realmente fiquei com uma nodoa negra em ambos os sitios no dia seguinte! Nódoas negras já nem ligo. Só meti uma vez o Trombogel e nos dias seguintes deixei que aquilo curasse por si mesmo.

Quando a enfermeira chefe veio brincou logo com a situação, dizendo que realmente os homens nao serviam para nada e que as mulheres é que sabem fazer as coisas como deve ser (todos realmente tinham muito bom humor e isso relaxou-me imenso). Tal como ele, viu o meu braço, apertou, bateu, mas o certo é que à primeira conseguiu uma veia minima que me disse logo: "Nao queremos perdê-la por isso cuidado!".
De certo que a experiencia de uma pessoa conta muito. Fiquei toda contente! E aqui está uma foto do cateter com soro com a veia que conseguiram apanhar!


Depois disso, o Rui já podia entrar naquela sala e estar comigo o tempo que quisesse.
Queixei-me, a brincar, que o enfermeiro me tinha batido e o rui perguntou logo na brincadeira qual era o carro dele e o numero de contribuinte! LOL

Como a minha entrada no bloco estava para demorar, mandei-o ir trabalhar! De que valia, para mim ou para ele, estar ali a apanhar uma seca como eu? No trabalho ele ainda relaxa e se distrai um pouco, e eu senti que estava num bom ambiente, a ser bem cuidada, e mesmo com o soro ligado à mão fui jogando psp.

Fui observando as pessoas que iam chegando das mini-cirurgias ou cirurgias. Quando chegavam os enfermeiros davam-lhes umas bolachinhas e um chá. Depois ajudavam a vestir se o acompanhante da pessoa ainda nao tivesse chegado e certificavam-se que a pessoa quando saisse estava mesmo bem. Muito cuidadosos. (o certo é que eles até têm um inquerito para serem avaliados pelo doente quando este sai).

Ás 14 horas a primeira pessoa da tarde já estava no bloco operatório, mas tratava-se de uma operação ao estomago e houve complicações o que fez com que demorasse horas lá dentro.
Vendo a demora da primeira operação, a enfermeira (sabendo que o meu caso era uma coisa rapida de se fazer) ainda tentou enfiar-me logo a seguir, mas a 2º pessoa da tarde já estava preparadissima e portanto nao tive outra solução senao esperar.

Descobri que levar soro dá-nos muita vontade de ir à casa de banho. (É como estarmos a beber àgua).

A certa altura o médico que me ia colocar o catéter apareceu (eu nao o conhecia). Perguntou-me de que lado era a Neoplasia (o meu cerebro por instantes pensou "neo quê?" mas depois percebi logo que ele se estava a referir ao cancro). Cada um chama-lhe o que quiser.

Disse-me: - Geralmente colocamos o cateter do lado direito, mas dado a sua neoplasia ser desse lado vou ter de o colocar no esquerdo. É mais dificil, mas faz-se.

Eu fiquei calada. Interroguei-me mentalmente porque raio seria mais dificil colocar no lado esquerdo, mas o certo é que nem queria saber. Se aquilo levava anestesia local era tudo o que me interessava.

O que é certo é que às 8 da noite ainda lá estava. Era a unica naquele quarto. e aquele serviço fechava às 9. A enfermeira chefe rescostou-se num dos cadeiroes e começamos a falar de férias e claro das Maldivas (a sortuda já lá tinha estado 3 vezes, portanto conversa nao faltou).

Devia ser umas oito e meia quando entrei para o bloco operatório. A unica operaçao que tinha tido na vida tinha sido em miuda, ao nariz e com anestesia geral. Estar acordada, numa sala de operações, e para quem não gosta deste tipo de coisas como eu, é um pouco assustador: ouvimos tudo. E como fico nervosa com estas situações, o meu corpo começa a tremer involuntáriamente (o mesmo aconteceu quando fiz a biopsia da mama).

As enfermeiras era simpáticas e ainda conversamos um pouco enquanto me preparavam.
"A gravidez muda o nosso corpo em todos os sentidos e depois aparecem estas coisas", comentou uma delas.

Todos terminavam o turno às 9 da noite, mas todos eles tinham concordado em lá ficar para me colocar o catéter. (percebi que não lhes pagam horas extras)

A sala era fria, muito limpa, só havia eu e os instrumentos, mais nada. Senti-me um como um paciente num espisódio da série "Anatomia de Grey" quando ouvi uma musica ambiente animada (que a certa altura deixei de a ouvir - deve ter sido dos nervos).

Colocaram-me um pano azul do pescoço para cima e de vez em quando uma enfermeira espreitava-me e perguntava se me sentia bem.

"Vou dar a picada da anestesia", disse o médico.
"Fixe", pensei. Picadas nao me custam assim tanto e depois nao vou sentir nada.

"Sente alguma coisa na orelha esquerda?", perguntou ele.
"Não", respondi-lhe, pensando para com os meus botões se deveria estar a sentir ou a nao sentir o que ele me perguntava.
"E agora?"
"Não", voltei a dizer-lhe. Mas não sentir era algo bom ou era mau? (claro que não perguntei - mais valia nem saber!)

"Quando estiver a doer qualquer coisa diga.", disse-me passado algum tempo depois da anestesia.
"Estranho" pensei, mas ao mesmo tempo calculei que fosse para ele ter a certeza que a anestesia estava boa.

"Mas não lhe está a doer nada?"
Por vezes doia qualquer coisa, mas eu nao sou muito de me queixar.
"Ás vezes"
"Diga sempre quando lhe doer"
E a partir daí de vez em quando dizia "au" sempre que sentia qualquer coisa (descobri que é esta a minha palavra para a dor).
Mas houve um dos "aus" que em vez de ele parar com a dor, agravou-a. E eu "au, au, au" e doeu tanto que até encolhi a perna (quando ele me tinha avisado que nao me devera mexer nunca! Mas nao consegui me conter).
"Não se mexa!", reclamou ele.

Ok, muito stress.
Conclusão: pôr um cateter doi. A explicação na minha cabeça é muito simples. Eles devem colocar a anestesia local no local onde abrem para pôr o cateter, mas depois empurram-no mais para baixo e essa parte que empurram nao tem anestesia.

Quando acabaram-me de coser, enrolaram-me como uma mumia.
O médico sentou-me na marqueza e deu-me indicações de como eu poderia mexer o braço até que até penso fosse mudado. Depois disso foi o stress para tirar uma radiografia (nao podia sair do hospital sem uma - é o procedimento). Cheguei a casa era já meia noite.

Tinha os tais exames que a medica da quimio me tinha pedido para fazer marcados para o dia seguinte, mas vi logo que nao ia conseguir ir a lado nenhum assim enrolada De facto, nunca pensei que pôr um catéter fosse assim.


E aqui estava eu no dia seguinte: A MUMIA. Por isso o blog ficou todo desactualizado, nao pude fazer muitos movimentos com o braço durante cerca de uma semana.

O certo é que a mini cirugia correu muito bem e o pós operatório também (tive muito cuidado comigo e segui as instruções à risca).

Isto eram os pontos no dia 26 de Julho, ou seja 4 dias depois! Têm bom aspecto - era o que toda a gente me dizia...
E já viram? Tive de levar um penso tao grande para uma coisa tão pequenina!



No dia 28 de Julho (quarta feira) fiz a primeira quimio (ainda falta colocar um post sobre isso) - ainda nem tinha tirado os pontos nem nada.
A foto tirei-a após fazer a quimio porque dá para ver a distancia entre os pontos e a picadela do cateter quando se faz quimio.


O primeiro penso (o branco) é onde estao os pontos. O penso normal é onde foi a picada que dá acesso ao catéter, que dá acesso directo à veia.

Quando fui tirar os pontos no dia 31 de Julho, sabado, e que não doi nada, comentei com o médico que a colocaçao do catéter me tinha doído imenso e ele perguntou-me:
- Se tivesse uma amiga que fosse colocar um cateter dizia-lhe que era algo que doia muito?
- Não. - respondi-lhe - dizia-lhe que ia doer só um bocadinho.
(E afinal a noção de dor também varia de pessoa para pessoa)
- Sabe - confessou-me ele. - Nós nunca sabemos até que ponto vai doer.

E isto é a minha Marca de Guerra. Foto tirada hoje de manhã quando o resto do penso saiu por si mesmo.

Beijokas a todos! :)

5 comentários:

  1. olá boa tarde Claudia.
    e tens passado bem?
    um beijinho

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  2. Olha, eu sou o contrário de ti: gosto de ver tudo hehehe eu acho que sou uma cirurgiã frustrada, durante muitos anos quis sê-lo mas as minhas notas não eram lá grande coisa...
    Quando fui operada ao joelho, levei epidural, e quando me perguntaram se eu queria ver o que se passava através de uma câmara, eu disse logo que sim! lol

    Em relação ao pareceres uma múmia, quando fui operada ao joelho, tinha 3 cortes pequeninos, que mal se notavam, no entanto tinha a perna toda enfaixada de alto a baixo!

    bjocas*

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  3. Olá Isa, olha enviei-te agora um mail enorme com muitas duvidas minhas e acho que és a melhor pessoa para me responder. :) Se fui um pouco chata desculpa.
    Por aqui vai-se tanto muito bem! Que seja sempre assim até ao resto do tratamento!


    Diana, ai que coisa! Eu se tiver de voltar a entrar numa sala de operações que seja já com a anestesia geral antes de lá entrar...
    Caía para lado se tivesse a ver o que eles me estavam a fazer. Mas também ouvi-los dizer coisas do tipo "É isso a agulha do catéter?" "Se o doutor quiser uma maior..."
    "Está a ver... é assim que se cose bem, um ponto mais largo e um ponto mais curto"... ai mas que stress!!!
    Realmente aquilo nao é pra mim!
    Já estou a ver que vais adorar quando tiveres um filhote! Vais querer ver tudo! LOL
    Sim, eles dizem que nos enrolam a mais para nao nos mexermos para nao criar hematoma! O certo é que resulta! heheeh

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  4. Ai, Claudinha...
    Estas experiencias tuas deixam-me um pouco arrepiado, e eu que não costumo ser piegas para com procedimentos médicos.
    Talvez porque esteja a 'ver' isto a acontecer a alguém que não sou eu?
    Realmente - quando a Lilian esteve no hospital, eu andava num estado que só visto...
    Parecia um estranho.
    **abraço asfixiante**
    Continua forte, minha linda.
    Tu és uma autêntica guerreira!


    Dá graça, Diana - também sou assim.
    Alias, eu sempre que tenho que tirar sangue para testes, sento-me a olhar muito atento, a como procuram as veias, e depois, os frasquinhos a encher... Chamam-me esquisito.
    lol
    O que não gostei nada, foi da ideia da "colonoscopy" (nem me perguntes o nome em português), até acordar e me poder vestir... Sentia-me completamente... "Ao leu"... Queria fugir da sala de recuperação. Mas senti qualquer coisa igual, quanto tive apendicite, por isso acho que é mesmo a minha reacção a estas experiencias... >.<;;

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  5. Voçês os dois bem que se podiam juntar! :P Ver aquelas coisas nao é pra mim! E nem ouvir!

    Patrick acho que quando somos nós é mais fácil de medir a dor, de controlar a situação. QUando se trata de alguém que gostamos custa-nos porque nao podemos fazer nada. Como na situação da tua irmã, o máximo que lhe podias dar era o teu apoio e ajuda.
    Vai tudo correr bem! Abraço enorme para ti também! :)
    A tua mana quando vier cá já me vai ver sem cabelo!

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