terça-feira, 25 de julho de 2017

7 anos Depois...

7 anos passaram assim... a correr. 7 anos de muitas emoções, muitas transformações físicas, emocionais, espirituais e muita aprendizagem. Todos os dias aprendo algo novo.

Estou de volta a Portugal (que saudades que tinha do sol!!)
e vou fazer alguns posts (com temas específicos) sobre as coisas que ainda se tornam uma luta diáriamente.

Quem já passou por cancro da mama sabe que a luta não termina no dia que acaba os tratamentos. Aliás eu costumo dizer que a luta começa aí, nesse instante, em que temos de descobrir se somos a mesma pessoa que éramos anteriormente ou um alguém completamente diferente. Enquanto estamos a lutar pela vida a nossa mente está ocupada, como se a nossa adrenalina estivesse em alta e nos ajudasse a mover. Quando tudo termina vem o silêncio. Olhamos no espelho e não somos a mesma pessoa a tantos níveis: o cabelo ainda curto, modificadas fisicamente - seja pela perca do peito, seja pelas cicatrizes, pelos quilos ganhos, pelo braço que (sem gânglios) não me mexe como queríamos. Olhamos no espelho e perguntamos quem é esta nova pessoa... o que é que ela quer para a vida? Quer voltar para a mesma profissão, o mesmo trabalho, ou quer algo novo? Ou merece algo melhor?
Deus deu-nos uma segunda oportunidade de viver. E agora, que faço com esta nova oportunidade?

Seja qual for a decisão. É vossa. Se não for vossa de coração têm de ter cuidado para não entrar numa fase de depressão. E se esse for o caso procurem ajuda, não se fechem numa concha.

Eu lembro-me de depois dos tratamentos ter pedido uma consulta psicologia. Pensei que talvez precisasse de ajuda para a nova fase, um apoio. Tinha desistido do trabalho de 10 anos, Portugal em 2012 estava já em crise profunda e eu fazia 2 horas de caminho (de transportes públicos) para chegar ao trabalho. Eram 4 horas por dia (que eu aproveitava para ler). Mas depois de uma luta de 2 anos para viver, essa luta profissional já não me fazia sentido. sentia que já não tinha capacidade. E lá fui eu a essa consulta de psicologia, Entrei, ouvi e nunca mais coloquei lá os pés. lol

O que a psicóloga me dizia não fazia sentido aos meus ouvidos. Falar com ela, foi como se estivesse a falar com uma pessoa que nunca tinha passado pela mesma situação que eu na vida e por isso tudo o que ela me dizia não ressonava aos meus ouvidos. Para ela tudo era simples de resolver.
- O que gosta de fazer? - perguntou-me.

- Escrever. Antes estava a escrever uma saga de fantasia. Ia no terceiro volume. E escrevi uma historia para crianças sem cabelo.
- Entao escreva. Faça isso. Envie para as editoras.
Olhei para ela como se estivesse com um extra terrestre à minha frente. Devia estar a brincar comigo. Desde os tratamentos que a minha memória tinha sofrido, a minha concentração também, não conseguia escrever mais de meia hora no computador devido ao braço e, cada vez que me sentava para escrever sentia um sentimento de culpa em como devia estar a aproveitar melhor a vida. Um sentimento que devia estar no momento presente e não a voar para a história da minha personagem como se estivesse a viver a minha própria vida.

Ultrapassei as duras fases pós-cancro sózinha, com o método que foi melhor para mim. 

Lembro-me bem da fase em que atingi o fundo do poço. Acordei um dia e perguntei-me: vou me levantar para quê? Não tinha emprego, o marido tinha saido de casa, não tinha filhos... não tinha utilidade.
E deixei-me ficar... e fiquei assim por uns 3 dias... ao fim do terceiro dia (pleno verão) comecei a ficar constipada. E então pensei: Lutei tanto para ficar com a minha saude. Não vou perdê-la.
E levantei-me.

Não queria tomar medicação para ansiedade e afins (porque a medicaçao tem um pesado efeito no figado e o figado já é gravemente prejudicado com os tratamentos de quimioterapia). Lembro-me que me levantava todos os dias, sentava-me  no chão com uma almofada, colocava musica de meditação, cantava, rezava, fazia afirmações positivas, chorava quando precisava de chorar, fazia reiki. Só me levantava quando achava que estava preparada para enfrentar o novo dia. Ao meu ritmo, do meu modo. 

E, ao fim de 7 anos, ainda me levanto e faço o que tiver de fazer para colocar a cabeça no lugar. Apesar de algumas dificuldades terem desaparecido, a ansiedade ainda continua lá. Como já disse num outro post, é como se fosse um fantasma de que às vezes damos conta da sua presença.

Quando as dificuldades surgem, isto é sempre o que eu digo: Um dia de cada vez. Vamos caminhando um dia de cada vez. E um dia de cada vez se passaram 7 anos.