A Batalha - O inicio

(16-06-2010)

Hoje fui diagnosticada com cancro da mama.
"É apenas mais uma batalha das muitas que já tivemos na nossa vida", diz-me o meu marido, "Onde é que alguma coisa já foi fácil para nós?"
Ele costuma ser mais pessimista que eu, mas é ele que é o guerreiro que estará sempre ao meu lado, aquele que me defenderá de tudo, aquele que eu sei que nunca me deixará cair do cavalo por mais cansado que ambos possamos vir a ficar. Ninguém disse que seria fácil, mas esperamos atacar o problema com eficácia e rapidez!
Para mim o pior foram mesmo os dias de espera pelo resultado da biopsia. Os dias da incerteza, os dias que eu estava optimista em relação ao resultado. Os feriados de Junho não tiveram o gosto que um dia sem trabalhar deveria ter.
"Não tens de ter medo, isto tem cura", disse-me ele olhando para a minha cara séria.
"Não estou com medo. Estou triste", disse-lhe.
"Devias estar era furiosa", responde-me ele, "Eu estou"
"Nao tenho ninguém com quem estar furiosa, estou triste porque isto vai-me impedir de engravidar nos proximos tempos."
Engravidei em Janeiro e tive um aborto retido no inicio de Março. A gravidez foi de risco e a certa altura, inexplicavelmente o coração do feto parou de bater. O peito inchou-me tanto no primeiro mês que mal podia tocar nele e doia-me mesmo que tocasse nele à superficie.
Em Janeiro a ginecologista tinha-me feito a apalpação (já nao me recordo se ela encontrou qq coisa, mas se encontrou era tao pequena que mal se notava) e recomendou-me uma ecografia mamária de rotina, e depois como na semana seguinte descobri que afinal estava gravida nunca mais pensámos nisso. E o peito é normal inchar com a gravidez, certo?
Portanto, Abril chegou e eu senti o peito voltar aos poucos ao normal e agora no final de Maio, enquanto agrafava umas folhas fiquei com uma dor debaixo do braço e de noite enquanto me mexia (ainda meio a dormir) senti um alto no peito direito.
"Que raio é isto?", acordei sobressaltada. Apalpei a mama esquerda para comparar. Não tinha nada. "Estranho"
No dia seguinte doia-me debaixo do braço devido ao mal jeito que tinha dado. Até me inchou e tudo, e por isso o médico do trabalho nao estranhou o alto. Mas na semana seguinte o braço ficou melhor e o alto no peito lá continuava.
"Vamos fazer uma Ecografia Mamária e uma Mamografia o mais rapido possivel", disse o médico. Apesar de eu senti que ele estava confiante que nao seria nada de mal.
Por milagre consegui fazer esses dois exames passado duas horas no Hospital da Cuf das Descobertas - consegui uma milagrosa desistência. (que mais tarde vim a saber que nem sequer havia)
A médica que me atendeu foi o mais atenciosa que pode existir. E depois da Mamografia feita e da Ecografia Mamária. Fez-me uma pergunta que me fez estremecer: "Veio sózinha?"
Ora, daí nada podia vir de bom. Seguiram-se perguntas como:
"Tem filhos?"
"Nao, tive um aborto retido este ano. Mas espero voltar a tentar no final deste mês"
"Tem antecedentes na familia?"
"De cancro da mama? Não. Tenho apenas antecedentes de cancro. Meu pai, a minha irmã, a minha tia" (Sim... desde 2007 tem sido uma aventura e a palavra cancro já nao me é assim tao desconhecida. O meu pai ultrapassou um cancro do pulmao e mais tarde um linfoma não hodgkin, a minha irmã com 26 anos teve linfoma de hodgkin na mesma altura que o meu pai, e a minha tia morreu o ano passado com cancro no figado)
"Tem um nodulo muito grande. Vai ter de fazer uma biopsia. Se quiser posso-lhe fazer uma já." (o nodulo tem 47 x 41 x 28 mm)
Todo o meu corpo tremeu. Mas nao hesitei em dizer que sim. Quando se tem algo, tem de se avançar e atacar o mais rapidamente possivel, pelo menos é essa a minha filosofia.

E hoje veio o resultado: "Carcinoma Ductal Invasivo"

A batalha começa.