sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Afinal já era assim!

Olá a todos!

Não ficando convencida com o meu cabelo no ultimo post que coloquei, resolvi ir ver as minhas fotos mais antigas. Afinal a minha mãe sempre me disse "Claudia nasceste careca" e portanto, pensei em vasculhar como me tinha crescido o cabelo nessa altura. Agradavelmente conclui que continuo igual! :D Ah pois é!

Mas vamos por partes!


Aos
7 meses já tinha cabelo, e o que vejo na foto??? Oh sim, lá está ele no ar, a desafiar a gravidade!!! Tenho de perguntar à minha mãe o que ela me punha no cabelo porque de resto estou penteadinha e tenho outra foto igual a esta sem cabelo no ar. Ela devia ter um truque!



Então, vasculhei o baú e fui ver o que me esperava nos próximos meses. Gosto sempre de estar preparada!

Um ano... O cabelo continua liso e penteadinho... cresce também devagar como agora ...


O interessante desta foto é que vejo as minhas bochechas super vermelhas e logo imagino que me encontro na mesma fase de quando era bébé. As minhas bochechas também ficam assim com os afrontamentos!!!

Então, avançando mais um pouco no tempo... 16 meses...



E lá estão os caracóis...!!! Exactamente no mesmo sitio onde se estão a começar a formar neste momento, mesmo atrás. Portanto, daqui a mais ou menos 1 ano estarei assim. Será que também me renderei à franja?

Mas o facto, é que o cabelo é o mínimo da minha actual baixa auto estima. O corpo que não emagrece é que me causa mais frustração. Quando faço o Herceptin tenho 72 kgs e depois do tratamento, passados uns dias, volto para os 73,5 kgs. Abala-me interiormente. Custa esperar que isto tudo termine.

E então olho para mais uma foto e a esperança renasce...



Olhem para aquelas pernocas gordinhas!!! :)

Conclusão: se eu quando era bebé consegui emagrecer, depois disto tudo terminar também vou conseguir. Isso e voltar à praia e ao mar! Que saudades!

Beijokas grandes para todos e bom fim de semana!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Uma questão de Cabelo



Toda a gente me dizia que quando o cabelo começasse a crescer que ia encaracolar. Enganaram-me! :P

O meu cabelo parece querer desafiar as leis da gravidade e a única maneira de o domar é colocando um pouco de gel.

De manhã quando acordo olho no espelho e pareço o Son Goku.




Depois roubo um pouco de gel ao meu maridinho e tento fazer qualquer coisa com a minha pouca habilidade para o cabelo. (nunca tive jeito para cuidar do cabelo)




E voilá! Assim já não assusto as criancinhas com que me cruzo na rua.

O facto é que o cabelo cresce muito lentamente assim como as pestanas e as sobrancelhas. O meu Buço não voltou a crescer e mesmo os pêlos das pernas são mais escassos. Calculo que seja do tamoxifeno que controla as hormonas.

Amanhã é mais um dia de droga para as veias (herceptin). Depois desta só ficam a faltar duas... mal posso esperar para que termine! :)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Queixas e Queixinhas

Já há algum tempo que não escrevia, mas foi para bem do meu braço. Finalmente parou aquela incomoda dor que começava na mão! E agora, como seria de esperar, tenho montes de coisas para escrever. Portanto, o melhor é colocar o assunto por tópicos.

Consulta de Oncologia


E lá fui eu à revisão, tal como um automóvel, e passei na inspecção sem ter de fazer mais exames. O TAC abdominal estava bom, assim como o raio X ao torax e as análises. É um alivio muito grande. Acho que nós, doentes oncológicos, vamos sempre andar com o coração nas mãos na véspera de uma consulta ou um exame. Não é que tenhamos pensamentos negativos, apenas queremos que tudo acabe rápido e no meu caso, quase morro de ansiedade (abençoado xanax que nos ajuda nesses e noutros momentos).

Portanto lá fui eu com uma lista de queixas (sim, ao longo do tempo vou colocando na agenda tudo o que quero dizer à médica e naquele dia levo tudo. É a única maneira de não me esquecer de nada).

Queixei-me:

* Cansaço no peito - Existem dias melhores que outros. Nalguns consigo andar sem me cansar, noutros não. É um constante cansaço. Depois existem dias em que parece que estou quase normal, em que consigo pedalar na bicicleta 20 minutos sem esforçar o coração, sem ofegar. Mas esses dias são raros. Tudo isto é normal. Ainda pensei que ela com a minha queixa ainda fosse me mandar fazer um novo electrocadiograma (fiz o ultimo em Janeiro, antes da operação), mas não.

* Dor nos pés - Nove meses após a ultima quimio e os ossos dos pés doiem. Continuo a levantar-me como uma velha. A médica da quimio diz que são mazelas/consequências da quimioterapia e que já não vão embora. Custa-me a acreditar que vou ficar assim para sempre e tenho fé que com o passar do tempo isto vá sendo amenizado.

*Afrontamentos - Uma pessoa queixa-se mas já se sabe que não existe nada a fazer. :P Um dia destes contei-os... 20 num dia. Daqueles horríveis e calor. Prefiro os de frio que são mais raros. Mas cada dia é diferente.
Não é só a parte fisica dos afrontamentos que nos afecta, mas também existe uma parte psicológica porque começo a ficar chateada de me sentir assim. "Lá vem mais um afrontamento" e pimbas, transpiro, fico vermelha que nem um pimento e lá tenho de esperar que passe. É muito frustrante não termos qualquer controlo sobre o nosso corpo.
Mesmo ontem a dormir, acordo com a sensação de estar a escaldar na cara. Eram cinco e meia da manhã. Tive de sair da cama, lavar a cara, beber um copo de àgua e olhem, acabei por tomar o pequeno almoço e ver televisão. E acrescentei um xanax pelo meio porque fiquei mesmo chateada com isto. Voltei a deitar-me às 8 e aí consegui dormir até ao meio dia, mas já fiquei todo o dia de mau humor. Enfim...

* Ausência de período - A ultima vez que tive o periodo foi em Novembro 2010. Daqui a nada faz um ano que não o tenho. Pensava que ele não tinha voltado devido ao tamoxifeno, mas a médica diz que ainda é da quimio. Em principio, qualquer dia há-de aparecer.

* Não consigo emagrecer - A médica diz que é normal e que é devido ao tamoxifeno. Tenho fé que depois de terminar o herceptin que consiga emagrecer. Sempre são uns líquidos a menos que uma pessoa leva no sangue. Aí posso começar a fazer um pouco mais de exercício (mas ainda com cuidado porque a enfermeira da quimio diz que o herceptin fica no nosso organismo cerca de 6 meses). Por enquanto tenho cuidado com a alimentação e já estou contente de não estar a engordar e se me apetecer um doce como! :D
Já é desconsolo suficiente olhar para o espelho e não me reconhecer!
E, a médica diz que o Tamoxifeno são 5 ou MAIS anos!!!!
Porcaria para o MAIS...

* Posso pintar o cabelo? - A médica olhou para mim com aquele ar de "que raio de pergunta estúpida é essa?"
"-É claro que pode pintar o cabelo! Eu oiço com cada asneira"
"- Oh Doutora, eu tinha de perguntar, é que há quem diga que pintar o cabelo altera os valores tumorais das analises do sangue."
Portanto, podemos pintar o cabelo. Ainda não o fiz. Ás vezes passa-me pela cabeça pintá-lo de cores mais anormais do estilo rosa, azul, etc... qualquer dia destes ainda arrisco!

* Doutora porque é que os valores tumorais mudam? Da outra vez o valor estava mais baixo. - Mais uma vez ela olhou para mim como se me quisesse bater. Eu não me importo, sou cusca, gosto de saber das coisas.
"Está dentro dos valores é tudo o que interessa. É como o valor da glicémia, pode subir ou descer mas está tudo bem se estiver dentro dos parâmetros."

* Dor de Braço - Depois de verificar a extensão da dor de braço chegou à conclusão que esta dor nada tinha a ver com a remoção dos glândios (já o mesmo dizia a fisioterapeuta) mas sim com o facto de o braço estar de certa maneira enferrujado porque teve de ser protegido durante tanto tempo. Receitou-me Voltaren em gel, o brufen e uns emplastros chamados "Vessatis" (estes últimos não têm comparticipação, a embalagem mais pequena trás 5 e custam cerca de 30 euros e foi um castigo para os arranjar numa farmácia. Não os cheguei a utilizar porque enquanto os tentava encontrar ia colocando o voltaren e quando os consegui já não me doía tanto o braço). O Voltaren gel passou a ser o meu melhor amigo. :)



Além disso ela disse que eu devia exercitar o braço/mão e uma boa ideia seria com uma bola anti-stress. E logo arranjei esta amiga que me faz companhia enquanto vejo televisão.




E ainda... começei a pensar no que é que poderia fazer para melhorar a minha posição de mãos quando estou a teclar e assim comprei este tapete almofadado que dá uma ajuda enorme ao braço enquanto teclo.



Além disto tudo só não me queixei das unhas estarem constantemente quebradiças, mas também já sei que é normal. O cabelo cresce devagar, devagarinho e não está a encaracolar muito... de manhã está mais do estilo Son Goku.

Vou parar de escrever para preservar o braço, já abusei bués. :) Voltarei em breve com outros temas. Beijinhos grandes e um beijinho especial para as duas pessoas que me escreveram esta semana a agradecer o meu blog! Isso fez-me ganhar o dia pois foi com esse intuito, de ajudar e explicar o que se vai passando, que o criei.

Beijinhos!!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Paciencia


Ter paciência é uma virtude. Confesso que por vezes a minha parece se esgotar, mas logo renovo forças e tento trazê-la de volta para a minha vida. Chamo-a muitas vezes e penso "É só mais um bocadinho"

Neste caso tenho apenas 10 minutos para escrever ao computador. Depois tenho de parar e ir fazer outra coisa qualquer desde que esteja a fazer um outro movimento que não seja apenas teclar. Portanto, no final de escrever tudo devo demorar quase uma tarde a conseguir pôr este post da maneira que eu quero.

O braço doí. Não dói enquanto teclo, mas quando faço alguns movimentos e quando estou ao computador sei que ele não gosta muito. É frustrante porque nos sentimos inúteis, impotentes.

A fisioterapeuta não sabe muito bem a razão da dor. Cada pessoa é diferente e eu devo andar perto de um caso raro (tenho de perguntar à médica da mama o que poderá ser).
Contudo, depois de lá ter ido hoje a principal lição foi:
* dar com água do chuveiro na cicatriz (que ela também diz que já não devia doer tanto como me doi)
* fazer matinalmente exercícios nas janelas (como se as estivesse a lavar) mas nunca indo além do ponto da dor.
* Nao ter o braço sempre a fazer o mesmo movimento durante um longo período de tempo.

e...
ESPERAR...

Esperar é fundamental para ver como o braço vai reagir nos próximos dias ou semanas. Não existe muito mais que se possa fazer. Bem... talvez reiki. Reiki ajuda em tudo.

O que eu sei é que fui para os Açores 5 dias e quando cheguei lá o braço deixou de me doer aos poucos. Não sei se foi do clima mais fresco, não sei se foi apenas passear entre a natureza, não sei se foi de não estar ao computador. Mas o certo é que alguma coisa foi, pois quando voltei para casa ele começou com a tal dor que começa na mão e que nunca tinha tido antes. Contudo, no segundo dia de férias à tarde tive de parar. Estava tão tão cansada e esse cansaço depois prolongo-se por mais de uma semana... deve ser do herceptin.

Aqui está o trajecto da dor (onde verem as borboletas é sinal que doi). Começa perto do polegar e depois vai por aí acima. Pode ser que alguém se identifique comigo. Alguém que tenha passado pelo mesmo?



Mas a dor não é sinal de inchaço. Esse, felizmente não existe e a fisioterapeuta voltou a tirar as medidas para irmos vigiando.


(O bracinho da Rosinha)

O inchaço é uma das coisas mais comuns que pode acontecer depois de se tirar os glândios. E foi o que aconteceu à Rosinha que encontrei hoje na Fisioterapia. Saíu de lá com o braço enrolado como um chouriço.

Bem, para a semana é a semana da revisão e lá vou à oncologista e queixar-me de tudo e obter a luz verde na inspecção. :) Fiz uma ecografia abdominal e estava tudo bem. Fiz um raio X ao torax que ainda nao fui buscar e fiz as análises que também tenho de levantá-las.

E como sempre é um dia de cada vez.

Beijinhos


terça-feira, 2 de agosto de 2011

Uma tristeza no coração


A nossa amiga Sonia do Blog "100 medo de viver" perdeu a guerra contra o bicho. É com grande tristeza que sinto a sua partida, um grande peso no coração. Apesar de não a ter conhecido pessoalmente falávamos e trocávamos mensagens e mails. Ela tinha sempre uma palavra boa para me apoiar.

Quando entrei no "gang da mama" ela era a mais nova e depois fiquei eu a sê-lo. Falámos de toda a vida saudável que ela tinha à sua volta. Falavamos do reiki, da yoga, das comidas, da leitura da aura, de tudo. Gostava de me ter despedido del
a, dizer-lhe o quanto ela foi importante para mim.

Sonia, as palas para os olhos com o cheirinho a Alfazema vais-me dá-las quando nos encontrarmos um dia, numa outra vida. :)

E, sempre que pegar no livrinho "As 50 lições que a vida me ensinou" vou-me lembrar de ti, pois foste tu que mo recomendaste. E agora cada página dele transformou-se numa memória eterna.

Coloco aqui o post que um dia colocaste no teu blog e que me levou ao livro e às conversas. Um post de esperança e de fé, pois isso não pod
emos perder isso enquanto cá andarmos.

Beijinhos para todos que me apoiam nesta batalha. Estou muito grata de vos conhecer. E um beijinho especial para cada elemento do "gang da mama".




"O chapéu voltava sempre mais desbotado, mas mais forte do que nunca.
O Frank é que começou.
Tinha feito quimioterapia pela primeira vez e não conseguia imaginar como seria ser careca. Foi então que vi um tipo com um boné de basebol com as seguintes palavras: A VIDA È BOA.
A vida não parecia nada boa e estava prestes a ficar ainda pior, pelo que resolvi perguntar-lhe onde tinha arranjado o boné. Dois dias depois, Frank atravessou a cidade até minha casa e deu-me um igual. Frank é um tipo mágico. Pintor de casas, vive em função de duas palavras simples: Poder ir.
Recordam-no por sentir gratidão por tudo. Em vez de dizer:«Hoje tenho de ír trabalhar», Frank diz a si próprio:«Hoje posso ir trabalhar.» Em vez de «Preciso de comprar mercearias», ele pode ir. E,em vez de dizer:«Tenho de levar os miudos aos treinos de baseball», ele pode levá-los. Funciona com tudo.
Noutra pessoa que não Frank, talvez o boné não tivesse tanto impacto. Era azul-marinho com uma etiqueta oval com a mensagem em letras brancas.
E a vida era mesmo boa. Mesmo depois de o meu cabelo caír, o meu corpo enfraquecer e de perder as sobrancelhas. Em vez de usar uma peruca, resolvi andar com aquele boné como resposta ao cancro, um cartaz para o resto do mundo. As pessoas adoram olhar para uma mulher careca. Quando me fixavam com ar de idiotas, liam a mensagem.
Gradualmente, fiquei melhor, o cabelo voltou a crescer e guardei o boné, até uma amiga minha adoecer com cancro e perguntar-me o que costumava usar na cabeça. Também queria um. De início não me apetecia separar do meu boné. Era o meu peluche, o meu cobertor de segurança. Mas tive de o passar a outra pessoa. Caso contrário, a minha sorte podia esgotar-se. Prometeu-me ficar boa e passá-lo mas acabou por mo devolver para que eu o passasse a outra sobrevivente.
Chamamos-lhe o boné da quimio.
Perdi a conta ás mulheres que o usaram nos últimos dez anos, de tantas amigas a quem foi diagnosticado o cancro da mama.(...)Usaram o mesmo boné, umas atrás das outras.
Quando voltava para as minhas mãos, parecia sempre mais desbotado e cansado, mas todas as mulheres ganharam um novo brilho no olhar. Todas as pessoas que usaram o boné da sorte da quimio estão vivas e de boa saúde.
No ano passado, dei-o ao meu amigo e colaborador Patrick O´Donnell. Diagnosticaram-lhe cancro do cólon aos trinta e sete anos. Levou o boné, apesar de eu não saber se resultaria com outros tipos de cancro. Falou á mãe daquele chapéu e do facto de ser mais um elo desta cadeia de sobrevivência. Ela descobriu a Life is Good,Inc., a empresa que faz o boné e outros produtos com o mesmo lema. Ligou-lhes a contar a história e encomendou um caixote cheio de bonés.
Enviou-os aos amigos e familiares mais chegados de Patrick. Tiraram fotografias com ele posto, e Patrick encheu a porta do frigorifico com imagens dos amigos, filhos, cães e ornamentos de jardim com A Vida É Boa na cabeça.
Entretanto a Life is Good,Inc., comoveu-se com a mãe de Patrick. Reuniram os empregados todos e desafiaram-nos a seguir«o espírito do boné da sorte da quimio» e a passar os seus bonés a quem precisasse de um empurrão. Enviaram a Patrick uma fotografia dos cento e sessenta e cinco empregados com o boné na cabeça.
Patrick terminou a quimio e está óptimo. Teve tanta sorte que nunca perdeu o cabelo, apenas ficou mais fraco.Nunca usou o chapéu mas sentiu-se comovido. Manteve-o em cima de uma mesa ao fundo das escadas, onde podia ler a sua mensagem todos os dias.
Ajudou-o a suportar os dias muito maus, em que queria largar a quimio e desistir. Qualquer pessoa com cancro já conheceu esses dias. Até quem nunca o teve já passou por eles.
Acontece que foi a mensagem, e não o boné, que nos ajudou, e que nos ajuda a todos.
A vida é boa.
Passe a palavra."

Retirado do livro "50 Licões que a vida me ensinou". Esta é a primeira delas. Quando o comprei pensei em ler uma lição por dia e ficar a "degustá-la". Mas, foi-me impossível, e pelo contrário, li-as quase todas num dia. *Sonia

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Não é fácil ser eu...

Tempo que passou desde o diagnóstico: 1 ano
Ultima de 8 quimioterapias feitas: Janeiro 2011
Operação ao peito e remoção dos glândios das axilas: Fevereiro 2011
30 rádios terminadas: Maio 2011
Herceptins: Espero que seja até Novembro... não sei... há pessoas que levam com estes anticorpos mais do que um ano.
Tamoxifeno: Não sei quando irei parar.
Ultimo período: Novembro 2011

"Não é fácil ser eu" é o pensamento que me assola mais frequentemente a minha mente. Não se trata de um queixume ou algo do género, apenas existem dias que não é fácil. Há dias que estamos mais
mentalmente fortes que outros e aqui a meditação e o reiki ajudam-me a manter equilibrada.

O que é que não é fácil nesta altura?

* Olhar-me no espelho - É difícil. Acho que fujo deles constantemente. Olho e não me reconheço e juro que quando voltar aos meus 60 kilos nunca mais vou reclamar do meu peso! E apesar de as pessoas dizerem que estamos bem e que vamos emagrecer isso não nos serve de consolo. A nossa auto estima decresce,
não sei comprar roupa porque cada vez que olho no espelho não gosto do que vejo. O cabelo curto não me fica bem com esta cara de lua.

* Emagrecer - Enquanto se leva com Herceptin e se toma Tamoxifeno ao mesmo tempo, a perda de peso é lenta e quase não acontece (pelo menos é o que acontece com o meu corpo). Tenho muito cuidado com a alimentação e a minha prima, que é enfermeira, depois de ler a bula dos dois medicamentos, diz-me "dá-te por feliz de não estares a engordar". Portanto, o meu objectivo principal é manter os meus 72 kilos até ao fim do Herceptin.

* Herceptin - Dois dias de 3 em 3 semanas drogam-me. Saio literalmente "mocada", com uma voz que se arrasta como se estivesse a viver um sonho. Chego a casa e durmo todo o dia e toda a noite... nesse dia prefiro dormir do que comer (aquilo dá fome também).

* Tamoxifeno - Todos os dias um comprimido. Todos uns dias um passo de fé. Fui fazer o exame aos ovários e felizmente estava tudo bem. :) Volto a repeti-lo em Novembro, 6 em 6 meses vigilância constante. Também tenho de mar
car o oftalmologista uma vez que a médica também disse que podia atacar os olhos. Mas estou tão farta de médicos, exames, consultas que só quero parar um bocadinho. E esta semana, pela primeira vez, está a ser isso mesmo que estou a tentar que aconteça... parar. Respirar. Mas o que eu desejava mesmo era estar uma semana sem sequer pensar que estive doente, mas é impossível quando se tem um comprimido para tomar.

* O braço direito - Ainda doí. Quatro meses após a operação e doí. Escrevo duas páginas de word e doí... e depois fica a doer dois dias... dois dias em que decido ficar parada. E tenho de parar porque penso que a dor pode ser sinal para eu não abusar. Não uso o rato do pc. Tento utilizar mais o braço esquerdo para fazer as coisas, mas depois recordo-me que tenho de ter cuidado com o cateter que está dentro de mim desse lado. Aqui o sentimento que ás vezes aflora é o de frustração pura. Eu não sou uma pessoa de parar e anseio que o braço, apesar de nunca o poder utilizar com normalidade, que pelo menos pare de me dar sinais de que estou a abusar. Para abrir um garrafão de àgua tenho de pedir ajuda e colocá-lo em cima da bancada da cozinha para não levantar o seu peso. Cuidado, tenho muito cuidado com o braço.
A sensibilidade ainda não voltou. Quero depilar os poucos pêlos que tenho debaixo da axila e não cons
igo porque como não o sinto tenho medo de me cortar. Tenho pesadelos em que me pico, hoje sonhei com cactos que me espetaram os dedos. Pânico... uma pessoa acorda atordoada. Cuidado a cortar os alimentos, sempre atenta... prefiro não ter as facas suficientemente afiadas.

* Afrontamentos - São maus. Ás vezes acordam-me a meio da noite. Transpiro com calor que me invade as bochechas, destapo-me e tento abstrair-me do que estou a sentir. Depois, passado pouco tempo, como aconteceu hoje, tenho tanto frio que ponho o lençol até ao pescoço e peço para que o meu amor me abrace. Nestes dias acordo cansada.
O meu consolo é que o transpirar diário com os afrontamentos podem me estar a ajudar a não engordar :P
O período não aparece desde Novembro (o que também não ajuda no emagrecimento).

* Dor de pés - cada vez que me levanto do sofá pareço uma velha coxa a andar... Doí... as sandálias do ano passado não servem, ou os pés estão gordos ou inchados, crio também bolhas mais facilmente, como se a pele estivesse sensível.


É uma luta diária comigo, com o meu corpo, com a minha mente. É visualizar que um dia me vou livrar de tudo isto e que possa voltar a ser eu mesma novamente.

A minha mente ocupa-se com mil e uma coisas, e isso e o meu homem e todas as pessoas que me rodeiam, ajudam-me a afastar de um depressão. Ah e claro, o reiki! Abençoado reiki! :D


Ps. Escrevi este post não para ter palavras de consolo ou algo do género. Escrevi-o porque eu sei que muita gente nova que passa pela mesma situação que eu passei e que ainda estou a passar que lêem aquilo que escrevo e eu só quero demonstrar que é normal estes sentimentos. É uma fase que irá passar.

E tudo o que podemos fazer é "levar um dia de cada vez", mas isso não impede de sonharmos com o futuro.


Junho 2010
Junho 2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Tamoxifeno


Na segunda-feira tive consulta com a médica da mama. Como já disse, gosto muito dela, gosto da sua frontalidade, gosto que ela esteja sempre à frente do acontecimento. Talvez ela seja assim porque como já teve cancro, sabe o que é passar por uma doença desta envergadura, estar no papel de doente.


Disse-lhe que tinha iniciado o Tamoxifeno e a primeira pergunta dela foi:
- Muitos afrontamentos?
Nem imaginam a quantidade. Uma pessoa num minuto sente uma lufada de calor na cara, como no minuto a seguir posso estar a tremer de frio. É horrível. Não dormimos bem, acordamos cansadas. É mau.

E a segunda pergunta dela foi:
- Já lhe falaram na remoção dos ovários?

Eu já li a Bula do Tamoxifeno e acreditem, não é uma coisa bonita de se ler. Aliás pensamos "Porque raio tenho de tomar esta porcaria se o bicho já se foi?". Mas o Tamoxifeno estabiliza as hormonas e os médicos fazem os doentes tomarem-no durante cerca de 5 anos. É prevenção. Uma prevenção que como todos os medicamentos, tem contra indicações.

- Eu disse-lhe para tirar os óvulos antes da quimio, lembra-se? - Sim, mas também depois viemos a saber que o cancro era positivo às hormonas e, para se tirar óvulos implica injecção de hormonas no corpo. - Pois foi. Era um risco.

Um risco que eu optei não correr.

- Já fez algum exame para ver os ovários? -Não, não desde o aborto. - Então vamos fazer um. E fazê-lo de 6 em 6 meses.

E assim amanhã lá vou fazer um Ecografia Ginecologica por via endocavitaria. O nome assusta, mas dizem que não custa nada.

Daqui a 9 meses faço uma nova ressonância mamária. Em Agosto novas análises, raio X torax, ecografia abdominal.
Tenho de marcar uma consulta na ginecologia, uma no oftalmologista (uma vez que a medica me disse que o tamoxifeno também pode atacar os olhos). Prevenção, prevenção...

O periodo não aparece desde Novembro e as médicas nunca sabem se entrei ou não em Menopausa precoce. Tudo são estatísticas. Todos os corpos são diferentes, assim como os cancros da mama são diferentes.

É preciso ter uma mente forte e não pensar muito no futuro. Ter fé. Ter filhos biologicos ou não, já não se trata de uma opção minha. É o que o futuro disser. E é de facto, um dia de cada vez.

Neste momento o que eu gostava era estar um mês sem médicos e sem exames, mas por enquanto nem uma semana consigo estar...

Uma doente oncológica sem uma agenda não se orienta! Somos mais ocupadas do que o Papa!

Ps. Hoje vou fazer a depilação. Bolas, porque é que os pêlos tinham de crescer naqueles sítios que não gostamos?

Ps1. As dores nas pernas e nos pés também ainda não passaram. Pareço uma velha cada vez que me levanto para fazer alguma coisa.

Ps2. O Reiki continua a ajudar imenso em todos os aspectos! :)